Este blog ainda em fase inicial irá fazer "viagens" pela cidade de Belém do Pará por meio de crônicas ,notícias, e dicas culturais.Divirtam-se!
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Apenas uma lembrança:"-Saudades do PALAFITAS!"
Passei neste axato momento só para registrar uma sensação.De vez em quando eu regresso para algo que ficou no meu passado,hoje regresso por meio do olfato.
Você já sentiu o cheiro do rio, cheiro de maré do meio da noite.Eu acho maravilhoso.Regressei por esse sentido para a primeira vez que fui ao "Palafitas", um bar de Belém localizado na cidade velha bastante conhecido.
Nossa!Nunca vou esquecer daquele dia.Estava com um amigo, o 'Nato', que ficou de me apresentar o bar.
Quando entramos me deparei com um cheiro maravilhoso, um cheirinho que adoro...bem próprio de Belém...cheirinho de rio(ainda bem que o Ver-o-peso estava calmo com seus trabalhadores, pois,o bar fica bem perto e em certas horas do dia é o cheiro de peixe que domina),o mais interessante é que você não dá nada pelo bar vendo a entrada, mas dentro, quando subimos uma escadinha e você se vê sob o rio, ao ar livre e olha para o horizonte e só vê água,estrelas e algumas ilhotas que parecem arbustos...
Queridos!É de encantar realmente...algo que para alguém como eu é maravilhoso, principalmente quando uma música ao vivo acompanha meus pensamentos.´
Quem gosta de bares requintados iria com certeza odiar, mas se você adora beleza das coisas simples e algo que te faça sair da velocidade e impiedade da cidade é um lugar perfeito.Uma criação maravilhosa!É de beber, conversar, ouvir e sonhar.Pra mim perfeito!E para você?Visite o "Palafitas" qualquer dia,talvez a gente até se encontre... só de escrever já não vejo a hora de ir lá novamente.
Um cheiro bem gostoso para vc,
Polly
obs.:o pé da foto é da modelo Hiromi Hayashi...rsrrsrsrs...
domingo, 18 de abril de 2010
Retratos de Belém -Por Polliana Nobre
Parece estranho dizer que gosto de “coisas velhas” nesse mundo que muda tanto de “cara” apresentando sempre algo novo e ainda mais belo.
Mas é que meu passado me faz amar meu presente. Ele construiu o que vivo hoje e talvez seja por isso que eu estou tão ligada ao que o representa.
Ando pelo Carmo nessa manhã, um dos poucos lugares que eu ainda não tinha parado para analisar e percebo que em cada passo que dou nesse canto “velho” da cidade velha , me transporto para o que foi e para o que ainda é.Meus passos entorteiam nas ruas depois do “Arraiá do Pavulagem”.Não eu não bebi.Me sinto sensivelmente arrastada pelo passado.
O ar quente costumeiro da tarde e o calor que evapora do asfalto já molhado pela chuva acentuam essa sensação e de repente as coisas mudam.
Belém 1840.
Cheiro de revolta ainda no ar, cabanos e milícias em choque. Belém é pura luta e traição, traição e luta.Algumas casas estão ainda sendo construídas, outras já estão lá...são vilelas sujas as ruas, ainda é início Belém.Fico num impasse.Vejo as travessas não sufocadas pelo piche e ao mesmo tempo vejo o povo , de agora, que brinca por essas mesma ruas estreitas, se deleitando na mistura alegre de bebidas, bois e carimbó. Não sabendo o que escolher ,ou melhor, não tendo porque escolher, percebo que é impossível dissociar essas duas Beléns.
Nas praças-idosas, nas ruas-histórias, se misturam no “remelecho carimbolenho” o novo e o velho, dois retratos com elementos indefinivelmente variados. Belém é mosaico e eu me sinto tonta.Sei que não é o calor, é a beleza dessa mistura que me desnorteia e me chama.
Tem muita gente que não gosta dessa parte da cidade (acham melancólica e estragada).Eu particularmente adoro.Falta ainda um olhar mais carinhoso para cuidá-la, mas é de um encantamento único.
Simpática Belém que não se importa com suas “enormes rugas” a mostra.
Vi ela viva hoje como uma velha senhora que ainda parideira, carregava a nova Belém(que não tem para mim um rosto definido, mas que cresce indiscutivelmente).Em frente a um prédio muito antigo no formato de dois “vês” invertidos cortado pelo térreo andar, a senhora Belém sorria .Percebo um movimento dentro dela.Belém nova se mexe,dá sinal de vida.Vejo crianças nas janelas deterioradas do antigo casarão, vejo cores morenas dentro da pobre e bondosa mansão cinza.Ambas Beléns se pertencem, uma necessita da outra e as duas se sustentam de tábuas, cimentos e tijolos de poesia.
O choro da tarde- por Pollyana Nobre
Não me perguntem por que amo Belém. Só posso responder que amo. Mesmo não gostando de muitas coisas nela.
Numa relação de amor e ódio vivemos. Xingo suas ruas, seu jeito de ser, sua personalidade persistente me tira do sério.E ela me devolve descontando todos os seus problemas do dia a dia, me encontrando em cada beco.Fico possessa, grito um “égua!” agoniado.Ela se desespera por vezes.Eu sei.É por isso que a amo.
Temos nossos momentos bons também. O meu sofrimento é por que ela não é só minha.
Belém é minha cortesã. A “Lucíola” do norte. Não aquela mortal de José de Alencar, mas é a minha imortal decadente.
Abraça a todos, oferece suas praças aos artistas sem dinheiro. Se abre aos pescadores e ribeirinhos em plena capital, deita-se com os sem tetos nos velhos monumentos (muitos deles respiram hoje apenas pó de reforma inacabada),oferece suas mangas nas valetas das avenidas entre os semáforos...Há gosto de mãe em Belém.Aquela resignada que tudo espera e que recebe pouco.Mas mãe é assim mesmo.
Lembrei de um poema de Max Martins: “Ver-O-peso”. Balança injusta essa nossa. Belém vale tão pouco , como todo o povo que a ama.Nossa grande feira nunca foi sinal de riqueza, a não ser riqueza cultural.Mas essa não ta valendo muito por aqui também não.Quem se lembra da nossa multiface?(Quem no Brasil faz idéia do que somos?)
Belém mãe e prostituta. Parece estranho adjetivá-la assim.Mas é isso mesmo.
Não fico triste pelo seu lado mãe, por acolher tanta gente que dela precisa.MAS PENSEM BEM, ela está sendo enganada por cada vagabundo.Vagabundos de classe, mas vagabundos.
Digo: “-Belém, não seja tão ingênua menina!”, “-Você tá saindo com quem não presta!”.
Minha cidade não sabe distinguir o que é melhor para ela, não sabe falar, não quer gritar. O meu amor está doente.Eu sinto.Respira abafadamente a tarde....de cansaço...de saudades do que não viu...As vezes um pouco animada balança as copas das mangueiras, mas o frescor é cada vez menor.Arde em febre no verão e chora.MELANCOLIA QUE ME ATRAVESSA.
Meus caros, a chuva da tarde não é chuva.É choro amargurado de quem não pode dizer não, de quem se dá a todos sem ter quem se doe a ela.
Minha doce prostituta está depressiva.
Minha mãe chora a cada dia um pouco mais.
Minha Belém morre afogada num socorro que ninguém escuta!
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